Letras Louvando Pelé
Carlos Drummond de Andrade
Pelé, pelota, peleja. Bola, bolão bolaço. Pelé sai dando
balõezinhos. Vai, vira, voa, vara, quem viu, quem previu? GGGGoooolll.
Menino com três corações batendo nele, mina de ouro mineira.
Garoto pobre sem saber que era tão rico. Riqueza de todos doada na ponta do pé,
na junta do joelho, na perna do peito.
É dança. Bailado de ar, bola beijada. A boa bola, bólide,
brasil-brincando. A trave não trava, trevo de quatro, de quantas pétalas, em
quantas provas, que se contam? Mil e muitas. Mundo.
O gol de letra, de lustre, de louro. O gol de placa,
implacável. O gol sem fim, nascendo natural, do nada, do nunca; se fazendo
fácil na trama difícil, flóreo, feliz. Fábula.
Na árvore de gols Pelé colhe mais um, romã rútila. No prato
de gols papa mais um, receita rara. E não perde a fome? E não periga a força? E
não pesa a fama?
Ama.
Ama a bola que o ama, de mordente amor. Os dois combinam,
mimam-se, ameigam-se, amigam-se. “Vem comigo”, e entram juntos na meta. Quem
levou quem? Onde um termina, e a outra começa, mistura fina.
Saci-pererê, saci-pelelê, só pelé, Pelé, na pelada infantil.
Assim se forma um nome curto, forte, aberto. Saci com duas pernas pulando por
quatro? Nunca vi. Nem eu. Mas vi. Saci corta o ar em fatias diáfanas, corta os
atacantes, os defensores, saci-bola, tatu-bola, roaz, reto, resplandece.
1 O que a afirmação “O gol sem fim, nascendo natural, do
nada, do nunca...” expressa?
2 O que o esporte pode representar aos jovens de origem
humilde?
3 Com que comparação (e metáfora) Carlos Drummond de Andrade
expressa ser Pelé o autor de jogadas mágicas, sobrenaturais?
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